A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) define o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) como um transtorno do desenvolvimento neurológico, caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos.
Isso significa que pessoas autistas se relacionam e se comunicam de forma distinta do padrão social de pessoas não-autistas. Agora, imagina essa pessoa na fase da vida que mais exige habilidades sociais e comunicacionais, onde seu corpo e sua mente passam por mudanças drásticas e ela se depara com novas realidades e exigências: a adolescência.
Imaginou? Pois é, é um desafio e tanto, não é?
Neste artigo, vamos entender um pouco sobre o diagnóstico do TEA na adolescência e os desafios e caminhos possíveis para adolescentes autistas. Vamos lá?
Diagnóstico
Sabemos que o TEA tem origem nos primeiros anos de vida, mas sua trajetória não é uniforme. Há crianças que apresentam sintomas logo após o nascimento, porém as pesquisas mostram que a maioria dos sintomas do autismo são identificados só entre os 12 e 24 meses de idade.
Dentre esses sintomas, vale destacar: anormalidades no controle motor, atraso no desenvolvimento motor, sensibilidade diminuída a recompensas sociais, afeto negativo e dificuldade no controle da atenção. Na tabela abaixo você confere sintomas específicos dos 6 meses, 9 meses e 12 meses de idade:
E quando o diagnóstico é feito na adolescência?
Bom, a adolescência é acompanhada pela puberdade. É a transição entre a infância e a idade adulta, onde a busca de autonomia em relação aos pais, a inserção em novos grupos sociais e a construção de parcerias amorosas representa um desafio.
O adolescente com TEA tem ainda mais dificuldade nesses aspectos do que não-autistas. Sua capacidade de sentir e comunicar são diferentes, mas não necessariamente impossíveis de serem convividas.
A série Atypical, da Netflix, nos ajuda a entender esse período. Atypical conta a história de Sam, um adolescente com traços autistas que está, apenas, querendo viver sua vida arrumando uma namorada, um emprego, se relacionando com seus pais, amigos e, claro, realizando seus sonhos. Do início ao fim, ela propõe um olhar sobre Sam e sobre quem se relaciona com ele, mostrando que a vida com uma pessoa com o TEA pode se tornar uma linda aventura.
#FicaADica
E depois dessa super dica, vamos entender melhor como são esses desafios relacionais e comunicacionais vividos pelo adolescente autista e como podem ser contornados.
Desafios relacionais e comunicacionais
Os desafios persistentes no sentir e agir social do adolescente com o TEA dificultam a construção de amizades ou de relações afetivas. Isso porque sua forma de sentir e de demonstrar afeto, interesse ou emoções, são diferentes dos padrões em que vivemos.
Por exemplo: um adolescente autista encontrou uma pessoa com quem queira se relacionar – não é muito comum, mas pode ocorrer. Para o autista se aproximar afetiva e sexualmente do outro, ele precisa vencer a dificuldade tanto na comunicação verbal, como não verbal. Ou seja, ele não se expressa ou sente da mesma forma que o possível parceiro.
Essa diferença tende a dificultar a compreensão dos relacionamentos. Porém, quando este parceiro compreende e respeita os limites do parceiro autista, o relacionamento pode ser duradouro. A mesma ideia vale para amizades e relacionamentos no trabalho.
Há adolescentes que têm maior dificuldade em conviver socialmente devido ao padrão restrito e repetitivo de comportamento e a inflexibilidade, que o faz adotar rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal.
Além disso, a hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente dificultam que o adolescente frequente espaços como shoppings, shows, festas barulhentas que despertam grande interesse para outros adolescentes.
Caminhos no acolhimento e acompanhamento
O tratamento do adolescente autista perpassa pelo acolhimento da família e dos amigos, e do acompanhamento profissional correto.
É importante que ele tenha um suporte familiar e psicológico para desenvolver estratégias adequadas para conseguir lidar com as demandas sociais de forma menos dolorosa e conseguir evoluir em áreas importantes da vida, como a vida profissional, relacionamentos e a autonomia.
Já o adolescente com o TEA associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento mental ou comportamental deve ter um projeto terapêutico que contemple o apoio necessário a cada um dos domínios psicopatológicos.
O manual Transtorno do Espectro do Autismo (2019) detalha ainda a importância de valorizar as habilidades para orientação das escolhas escolares, profissionais e afetivas do autista. Cada adolescente deve desenvolver estratégias compensatórias para alguns desafios sociais, mas seus familiares e amigos precisam estar cientes de que, frequentemente, poderão enfrentar dificuldades em situações novas com ou sem apoio.
Os esforços para manter uma vida feliz e saudável para o adolescente autista precisa ser um compromisso da hebiatra e da equipe multidisciplinar que o acompanha.
Se você ficou com alguma dúvida sobre o diagnóstico do autismo na adolescência, ficarei feliz em te ajudar.
Espero por você!