O ano começa com uma campanha fundamental: o Janeiro Branco, mês de conscientização sobre a Saúde Mental.
Por isso, quero aproveitar a data para abordar, de maneira especial, a saúde mental do(a) adolescente, com orientações para você, cuidador(a), que quer criar laços e manter uma relação mais próxima com seu adolescente.
Mas, antes disso, se você quiser dicas de como melhorar a comunicação com seu adolescente, escrevi um post específico sobre o tema: “Comunicação com adolescentes: como se aproximar sem invadir?”. Neste texto, vou me deter às orientações da Unicef e daquelas adquiridas ao longo da minha carreira.

O que é a Saúde Mental?
A Saúde Mental é parte fundamental da nossa saúde e bem-estar integral. Ela não diz respeito apenas aos nossos sentimentos, mas sim a uma complexa “rede” de fatores.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a Saúde Mental como um estado de bem-estar mental que permite que as pessoas lidem com o estresse da vida, percebam suas habilidades, aprendam bem, trabalhem bem e contribuam para sua comunidade.
Já quando falamos de bem-estar, referimo-nos às condições fundamentais da vida, como saúde física, apoio social e condições econômicas, por exemplo.
E se alguém acha que os mais jovens estão imunes a essas condições, está redondamente enganado. Para estar imune, a pessoa precisaria estar totalmente inerte à realidade, vivendo numa bolha e sem sair de casa.
Ninguém está imune.
Para ajudar os cuidadores de crianças e adolescentes a lidarem com a Saúde Mental dos mais jovens, a Unicef dividiu as orientações por blocos de idades: 0 a 5, 6 a 1, 11 a 13 e 14 a 18 anos. Como falarei apenas de adolescentes, vou me deter aos dois últimos blocos.
Orientações para cuidadores de crianças e adolescentes de 11 a 13 anos

Ouvir: Tente ouvir ativamente o que eles estão dizendo sem deixar que seus pensamentos e julgamentos guiem a conversa. Respeite e incentive a opinião do seu filho.
Reconhecer: Garanta a eles que você entende seus pensamentos e sentimentos, incentive-os a serem abertos com você e reafirme que você está lá para eles. Lembre-os de que você também teve essa idade e se lembra de ter vivenciado os mesmos sentimentos.
Ofereçer soluções: Pergunte se eles pensaram sobre o que precisa mudar – “O que você acha que deveria ser feito?” Se não pensaram, ofereça-se para ouvir e conversar com eles. Dê suporte com o que eles precisam para se sentirem melhor.
Dizer a eles o que devem fazer: Em vez disso, pergunte como você pode ajudá-los.
Ignore ou minimize os sentimentos deles. Lembre-se, é difícil se abrir sobre sentimentos que podem ser confusos para a criança.
Discutir: Observe seus próprios pensamentos e sentimentos e tome cuidado com conflitos. Tente resolver quaisquer conflitos ou argumentos o mais rápido possível. Se isso acontecer, peça desculpas e comece de novo.
Culpar os outros: Dizer “Isso é culpa da sua escola!”, por exemplo, externaliza o problema, mas não o resolve.
Comparar: Evite dizer coisas como “Outras crianças não têm esses problemas”.
Lembre-se
Paciência e consistência são essenciais! É comum que nesta idade o pré-adolescente demonstre menos afeição pelos cuidadores. Você pode sentir até mesmo que ele te trate mal ou que esteja virando “outra pessoa”. É importante que você entenda que ele está começando a se sentir mais independente, então quando recebe uma ordem há uma resistência maior. Isso não é atípico e não representa uma patologia. Faz parte da idade. Portanto, não julgue-o: acolhe-o! Pode levar algum tempo, mas tente dialogar com ele nessas horas, colocando opções alternativas ou explicando porque a situação não pode ser diferente. Sempre deixe claro que você o ama e que só pensa no bem-estar dele.
Orientações para cuidadores de adolescentes de 14 a 18 anos

Reconhecer o bom junto com o ruim e elogiar suas conquistas, mesmo as pequenas: Este estágio de desenvolvimento também é um momento para criatividade e crescimento pessoal – identifique instâncias disso com seu adolescente. O mundo parece imprevisível para seu adolescente e ele pode estar lutando para se sentir no controle. Diga a ele que você entende isso.
Verificar suas mídias on-line e hábitos sociais: Converse com seu filho adolescente sobre o tempo que ele passa on-line e sobre como se manter seguro contra assédio e bullying on-line. Tranquilize-o de que, se ele estiver com problemas ou tiver cometido um erro on-line, você estará lá para ajudá-lo, não importa o que aconteça.
Ser aberto sobre seus próprios sentimentos: Mostrar a eles como você lida com o estresse pode ser um exemplo para eles e falar sobre como você lidou com os problemas quando tinha essa idade.
Assumir a discussão e dizer a eles o que fazer: Pergunte o que você pode fazer para ajudar e trabalhe com eles para encontrar soluções.
Ter uma discussão quando estiver bravo: Afaste-se, respire fundo e acalme-se – você pode continuar a conversa mais tarde.
Envolver-se em disputas de poder: Em vez de discutir, tente ter empatia com seu adolescente em suas frustrações.
Lembre-se
Tudo está conectado! É importante que você saiba que adolescentes são resilientes e as experiências difíceis fazem parte do processo de se tornarem adultos independentes e capazes. Não o prive de experiências que não sejam perigosas e mostre que você confia nele. Se na pré-adolescência você já se sentia sendo afastado por ele, aqui a sensação pode continuar. Afinal, ele está tentando se entender no mundo, entender seus próprios gostos e interesses. Você pode ajudá-lo mantendo-se próximo, ajudando-o a se manter conectado à escola, à família e aos amigos, e celebrando suas conquistas. Lembre-se que as interações sociais positivas previnem uma série de comportamentos negativos, como uso de drogas e violência.
Reserve um tempo para encontrar maneiras de apoiar, encorajar e se envolver com seu adolescente. Nem sempre será fácil e pode exigir paciência e autocontrole de sua parte, mas é possível e sempre vale a pena.
Se quiser entender melhor quando uma atitude é um atípica para a Saúde Mental do seu adolescente, você pode gostar de ler: Saúde mental na adolescência: normalidade ou sinal de alerta?
Gostou das orientações e ficou com alguma dúvida? Meu consultório está de portas abertas.