Enquanto médica especializada em adolescentes, vejo corriqueiramente no consultório cuidadores preocupados com a alimentação dos adolescentes, seja porque “comem demais”, seja porque “comem de menos”.
Nos últimos anos, uma prática chamada mindful eating tem ganhado destaque nas discussões sobre um problema cada vez mais comum na adolescência e que pode ter impactos duradouros na vida adulta: a compulsão alimentar. A seguir, explico como esses temas se conectam e por que essa abordagem pode fazer a diferença.
Mas o que é o mindful eating?

O termo nasceu do Mindfulness, também chamado de Atenção Plena. A prática meditativa de origem budista, porém sem caráter religioso, é um convite para realizarmos nossas atividades com foco no momento presente, dando atenção às sensações, sentimentos e pensamentos que passariam batidos.
Quando aplicamos na alimentação, o mindful eating (“alimentação consciente”, em tradução livre) nos convida a fazermos escolhas e vivermos experiências alimentares mais conscientes, o que é fundamental para a promoção da saúde. Na prática:
- Desligue telas na hora da refeição;
- Sente-se confortavelmente na mesa, evitando poltronas na hora da refeição;
- Coloque no prato uma quantidade consciente de alimento que vá nos saciar, respeitando os limites do nosso corpo;
- Sinta o paladar, a textura e a temperatura do alimento;
- Analise, ao final da refeição, se a quantidade de alimento foi suficiente ou se precisa de mais ou de menos.
De que forma ele colabora em casos de compulsão alimentar na adolescência?

No consultório, já ouvi diferentes histórias de adolescentes que convivem com a compulsão alimentar, seja por experiência própria ou por relatos de amigos. Os números confirmam a gravidade do problema: 4,7% da população brasileira sofre de compulsão alimentar, quase o dobro da média mundial, que é de 2,6% (OMS). Na adolescência, as mudanças corporais e a pressão estética podem gerar uma relação conturbada com a alimentação, especialmente entre as meninas.
Para estarmos na mesma página, a compulsão alimentar é um transtorno caracterizado por episódios recorrentes de ingestão excessiva de alimentos em um curto período de tempo, acompanhados de uma intensa sensação de perda de controle, como se fosse impossível parar de comer ou regular a quantidade ingerida. E vale destacar: a compulsão não se limita ao consumo de doces. Alimentos salgados, refeições principais e até lanches rotineiros podem estar envolvidos nesses episódios.
É nesse contexto que o mindful eating, ou alimentação consciente, se torna uma abordagem valiosa. Mais do que apenas prestar atenção ao que se come, essa prática incentiva a percepção dos sinais internos de fome e saciedade, além de promover uma relação mais equilibrada e respeitosa com os alimentos.
Como integrar essas práticas na rotina?

As práticas de mindful eating podem ser aplicadas por qualquer pessoa. No entanto, quando falamos de crianças e adolescentes, os cuidadores desempenham um papel essencial, incentivando essa abordagem e criando um ambiente propício para uma alimentação mais consciente.
Se você percebe que um adolescente próximo tem uma relação conturbada com a alimentação, é fundamental buscar orientação profissional. Em muitos casos, um acompanhamento multidisciplinar, envolvendo hebiatra, nutricionista e psicólogo com foco em comportamento alimentar, pode fazer toda a diferença.
Meu consultório está de portas abertas para acolher e orientar você!