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Infância na era das telas: o que estamos perdendo?

No consultório, é cada vez mais comum ouvir cuidadores preocupados com o tempo de tela das crianças. E não é para menos. Na primeira infância, as crianças desenvolvem três áreas fundamentais: social, familiar e escolar. Quando essa interação física passa a ser mediada por aparelhos eletrônicos, surgem questões relacionadas à construção de relacionamentos. Afinal, se a internet cai durante uma chamada de vídeo, a conversa fica interrompida. Mas, se essa interação for presencial, a comunicação não é bloqueada por uma falha na rede.

Nós, adultos, temos uma maior compreensão sobre as complexidades dessas tecnologias. Mas o cérebro da criança funciona de forma diferente. Ela pode realmente entender que uma conversa virtual pode “cair” ou ser interrompida? Como ela vai construir o seu mundo social e emocional diante dessas limitações?

Afinal, até que ponto o uso de celulares e tablets impacta o desenvolvimento infantil? Vamos refletir sobre essas indagações com alguns dados.

O uso das telas nos primeiros anos de vida

O uso das telas nos primeiros anos de vida

Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará, em parceria com Harvard, acompanhou mais de 3 mil crianças desde o nascimento até os cinco anos e trouxe um dado alarmante: 69% delas foram expostas a telas em excesso. Aos 12 meses, 41,7% dos bebês já tinham contato frequente com vídeos e estímulos visuais passivos, e esse número sobe para 85,2% aos 4 e 5 anos.

O impacto? Cada hora adicional de tela reduz habilidades essenciais para a infância: comunicação, resolução de problemas e sociabilidade. E isso faz sentido. A infância se constrói na interação com o mundo real, no contato humano, no brincar livre e no movimento. Quando esses momentos são substituídos por uma tela, o cérebro da criança perde oportunidades preciosas de aprendizado.

O que está sendo feito?

O que está sendo feito?

Diante desse cenário, algumas mudanças já estão sendo feitas. A Lei nº 15.100/2025, por exemplo, restringe o uso de dispositivos eletrônicos pessoais durante aulas, recreios e intervalos na educação básica, garantindo um ambiente mais equilibrado para o desenvolvimento infantil.

Isso significa que as telas devem ser proibidas? Não necessariamente. Mas precisamos refletir: como equilibrar esse uso? Como garantir que as telas sejam aliadas, e não obstáculos, no crescimento saudável das crianças?

E o que os cuidadores podem fazer?

E o que os cuidadores podem fazer?

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), no Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde (2020), apresenta as seguintes orientações:

  1. Para adolescentes (11 a 18 anos): limitar o uso de telas e videogames a no máximo 2 ou 3 horas por dia, sempre com supervisão. Evitar jogar durante a madrugada.
  2. Para crianças de 6 a 10 anos: restringir o tempo de tela a 1 ou 2 horas por dia, com supervisão constante.
  3. Para crianças de 2 a 5 anos: limitar o uso de telas a no máximo 1 hora por dia, sempre com supervisão.
  4. Criar regras saudáveis: defina horários e limites para o uso de equipamentos e aplicativos digitais, incluindo medidas de segurança como senhas e filtros. Reserve momentos para desconexão e valorize a convivência familiar.
  5. Oferecer alternativas: incentive atividades esportivas, brincadeiras ao ar livre ou em contato com a natureza, sempre com supervisão responsável.

Se houver dúvidas ou sinais de prejuízo no comportamento dos pequenos, buscar orientação profissional pode fazer toda a diferença. A infância é um período único e insubstituível. Vamos protegê-la.

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